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CRÔNICAS!!

CULTURA DE PAULO DE FARIA APRESENTA:

O Barulho do Silêncio 

Autora: Neide Martins 

     Estava certo dia num lugar muito bonito, com árvores por todos os lados. Contemplava a natureza e parecia que ela fazia o mesmo comigo. Tudo era silêncio. Tive a impressão de que os pássaros haviam abandonado aquele bosque, pois as árvores achavam-se quietas. Por um momento não ouvi nenhum leve ruído, nenhuma brisa pairava no ar. Aquela quietude estranha, porém maravilhosa, fez-me esquecer do que me aborrecia. Então escutei ou senti, não sei bem como explicar; a verdade, porém, é que ouvi o barulho do silêncio. Creio que ele vem de nosso interior, acostumado com a movimentação diária. O silêncio é diferente. Todavia, esse instante de contemplação durou pouco, porque de súbito um ruído as minhas costas me trouxe à realidade. Uma amiga que me procurava, ao encontrar-me, queria que eu retornasse ao local em que se achavam nossos conhecidos. Nada lhe disse a respeito do que experimentei e não a repreendi por me fazer voltar à rotina do dia a dia. Mas no íntimo, sentia-me aborrecida com sua intromissão. Também não lhe revelei que pela primeira vez escutara o ruído que faz o nada, poderia não me compreender e me interpretar de outra maneira...

 

 

   Xadrez das almas

Autora: Sylvia Cristina Toledo Gouveia

Nunca mais falamos sobre textos. Desde a primeira troca, nos habituamos a sentar frente a frente, velando papeis. Apelidamos esse exercício de xadrez das almas. Jamais interpelamos os nossos silêncios. Cara a cara, analisamos os nossos escritos enquanto grafamos os nossos corpos, texto em contexto. É que nosso olhar cintila o compasso das equidistâncias. Na visão do outro tornamos orgânica a nossa caligrafia. Já há algum tempo que engendramos o nosso verbo em carne e prestigitamos palavras assim, olho no olho.

Paraty, julho de dois mil e dezoito. Pela primeira vez arriscamos um desencontro vespertino, na Rua da Praia. Ficamos frente a frente, cada um num canto da cidade, com a caneta a morder os lábios, diante dos nossos papeis. Até que enfim germinamos. Da semente nasce-nos um botão de rosa no centro exato do peito, sobre a glândula timo. Textos a postos em contextos prontos. Passamos, pois, a caminhar pela areia, nus como índios, recém-saídos do hospício. Seguimos nossos planos paralelos, naturalmente equidistantes, enquanto no centro da cidade a festa que agora acontece nos absorve e observa. Estandes montados pelas avenidas. Tendas lotadas de futuros autores. Nós, os eternos leitores. Internos tergiversadores de nós mesmos. Paramos nas escadarias de pedra para trocar envelopes, em frente à Matriz de Nossa Senhora dos Remédios. _ Veja, este é o meu manuscrito. _ Ok, este é o meu reescrito. Vinte e quatro horas conjuntas em espiralado diálogo. O que teriam feito durante todos os outros dias, orbitando em constelação?

O abraço apertado cela o xeque mate do encontro, olho no olho. Grafados um no outro, o poeta e a poeta abrem os envelopes no caminho de casa. Devoram versos e verbos por entre olhos e bocas, antropofágicos. Corpos entre corpus tatuados com nanquim metafísico. Resvalam no interior de pergaminhos por rabiscos desconhecidos, também passageiros. Transitam de um para o outro, em responsivo diálogo. Não dividem o mesmo voo, mas persistem, no espaço dos ares, no xadrez das almas (vastes oiseaux des mers). Traçam os últimos contornos da poesia grafada em seus cadernos-invólucros. Rememoram escritos com os olhares apostos em direção à janela: texto em contexto. Do lado de fora a paisagem em movimento poematiza no horizonte lições de partir.

 

 

UM CONSELHO

Autora: Neide Martins

 
Quando as crianças e os jovens são criados num ambiente saudável, com boa orientação, o resultado é ótimo. O mundo é dos jovens, nada melhor do que renovar. Isto atinge a todos os setores, quer na música, na arte, nas letras, no trabalho de um modo geral e até na política.
Só um jovem bem direcionado ou uma pessoa de espírito jovem, com boa intenção, pode ser feliz e fazer os outros felizes. As pessoas implicantes e as que escolhem viver à margem da sociedade, do progresso, que não sabem perdoar nem aceitam a vida que levam, embora aos olhos dos outros, elas têm tudo para serem felizes, não merecem nenhuma consideração e muito menos respeito!
Os inconformistas, jovens ou velhos, são pessoas complexadas que só sabem travar as possibilidades do próximo, se este depender deles naturalmente.
Por outro lado, aquele que não é jovem, mas procura estar em contato com uma juventude saudável, compreendendo o anseio de todos, apoiando-os nos dias atuais, será um eterno jovem.

Para os rabugentos, tenho um excelente conselho: passem mais tempo com as crianças e/ou com os jovens na Prainha de Paulo de Faria quando a pandemia acabar. Nós esperamos que ela termine o mais rápido possível. Enquanto isto não acontecer, que todos respeitem as normas e procurem ser felizes!